80% das vítimas desta doença dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). 20% são pacientes da rede privada. Ficou evidente na análise da jornalista que existem pacientes de primeira classe (tratados em hospitais privados) e os de segunda classe (tratados pelo SUS). Ela confessa que está curada, porque era paciente de primeira classe. É a realidade vista por uma paciente.
Como médico há cinqüenta anos o meu cotidiano é o sofrimento humano. Participei recentemente de um congresso médico, e no seu final, prometi a mim não voltar mais a nenhum. É desumano para um médico dominar novas tecnologias e terapias, e diante de um paciente de segunda classe (80% da população brasileira), não poder utilizar aqueles conhecimentos. O pior é que se a classe médica reclama das condições oferecidas aos pacientes pobres ela é quase destruída pelos plantonistas do poder.
Acabo de saber que um paciente de segunda classe morreu por falta de um desfibrilador cardíaco. E a impotência do médico ante tal situação? Só lhe resta deixar o plantão e fazer um Boletim de Ocorrência (BO) na delegacia policial mais próxima, para não ser responsabilizado pela morte.
Minha mulher morreu de câncer, embora fosse passageira de primeira classe como a jornalista. É difícil acompanhar a trajetória desses pacientes “até a sua aposentadoria totalmente fora de hora”.
E o que fazem as nossas autoridades? Aplicam no orçamento da saúde a filosofia do cavalo na parada de 7 de setembro:
Andando, cagando e sendo aplaudido...
Gabriel Novis Neves
29-11-2009