Nos últimos cinquenta anos acompanhei as conquistas científicas da medicina. Fui aluno da então Faculdade Nacional de Medicina da Praia Vermelha, do Rio de Janeiro. Tudo que aprendi com os meus mestres - como o professor de Fisiologia que disputou o Nobel, ou o de Física, Carlos Chagas Filho, um dos consultores científicos de Sua Santidade o Papa - não esqueci. Entretanto, não utilizo seus ensinamentos, por pertencerem à história da Medicina.
Aprendi que homossexualismo era doença e como tal o seu portador deveria receber tratamento médico. Que alcoolismo era vício, malandragem, irresponsabilidade, fraqueza humana e merecia severa punição e repúdio da sociedade.
Não é preciso ser médico para saber hoje que homossexualismo é opção sexual e não doença. Até o Código Internacional das Doenças (CID) retirou esse termo, que tinha um número para identificar a doença. O alcoolismo não tinha CID, hoje tem e não é mais aceito como vício. É uma doença e o seu portador deve ser tratado como tal.
A Medicina evoluiu, e muito, ao desvendar certos mistérios deste produto complexo que é o ser humano. Muitas e muitas indagações dos cientistas ainda permanecem sem respostas da ciência médica.
Tenho lido, ouvido e visto tantas barbaridades que cheguei à conclusão que o Brasil está doente, muito doente. Partindo do conceito moderno de que alcoolismo é doença e o seu portador exige cuidados médicos, estou preocupado.
Deixar, em horário nobre - quando as crianças estão acordadas –, que um dependente químico faça apologia das drogas nas novelas de TV, é de uma irresponsabilidade total.
Os médicos, e aqueles que convivem com esses pacientes, sabem dos delírios e alucinações produzidos pelas substâncias exógenas quando usadas por muito tempo no organismo humano. O quadro é dramático e merece o nosso maior respeito para ajudá-los.
As pessoas não acostumadas a lidar com essa doença - e principalmente as crianças, depois de presenciarem uma cena aguda daquilo que classificamos como delírio -, serão facilmente vítimas do chamado trauma psicológico de consequências imprevisíveis.
É lamentável também a proliferação da indústria da fé, diante da ausência do governo no trato da saúde pública. A história da medicina, especialmente a cuiabana, é rica em personagens que tanto se sacrificaram para colocar a nossa cidade como sede de uma das melhores escolas de graduação de Medicina do Brasil, assim como possuir hospitais para atendimentos da mais alta complexidade.
Por que avançaste tanto, minha ciência médica, se o governo não te reconhece?
Prefiro ouvir a história da medicina, para me encantar com o sonho do seu passado.
O presente é um pesadelo de horrores.
Gabriel Novis Neves
07-04- 2011