É
uma terminologia recente essa história de produção de serviços médicos.
Acredito
que o termo, produtividade médica, tenha surgido no período auge do prestígio
dos economistas na década de setenta, quando o bolo teria que crescer para
depois se distribuir à população faminta.
A
produtividade médica tinha uma meta. O médico teria que atender, em um período
de quatro horas de contrato, dezesseis pacientes.
Geralmente,
a divisão era mais ou menos assim: atendimentos de primeira vez, consultas de
retornos e alguns acompanhamentos especiais.
O
importante era atender os dezesseis pacientes no período estabelecido. Muitos
colegas conseguiam atingir a sua produtividade em cinquenta minutos. Deixavam o
posto de saúde, pois o seu trabalho estava cumprido, e eram avaliados como
excelentes profissionais pelos gestores da saúde – grande parte deles, leigos
no assunto.
O
colega que cumpria as quatro horas de contrato no posto, e atendia de três a
quatro pacientes, era mal visto pelo pessoal do posto e tido como preguiçoso
pelos gestores.
Na
produtividade médica, nunca é considerada a qualidade, e, sim, a quantidade de
pacientes atendidos. O fator produtividade médica, até hoje em vigor e com
direito adquirido de permanecer para sempre, é um dos fatores que não deve ser
esquecido quando se avaliam a péssima qualidade dos serviços médicos, especialmente
os públicos.
Um
dos municípios mato-grossenses retrata bem a situação da saúde pública no
Estado. Apenas para ficar registrado, este município, no momento, recebe
especial ajuda financeira do governo do Estado para a saúde pública; tem uma
ONG mantida pelo Estado para administrar o seu hospital Metropolitano, por
absoluta incompetência dos gestores municipais; provocou, por falta de
condições de trabalho e atraso no pagamento dos seus médicos, a maior debandada
de demissões na história do município, além de projetá-lo nacionalmente com um
especial do JN no Ar, mostrando a verdade da saúde de urgência e emergência
para todo o Brasil.
No
município em questão o PSF é uma enganação e as policlínicas não funcionam por
falta de estrutura, de medicamentos e de médicos. Esta é outra das realidades
escondidas.
Certo
dia, o responsável pela saúde pública naquele município, ao ser questionado por
jornalistas do porque da calamidade em que se encontra esta área de atendimento
social, respondeu com esta pérola: que tudo estava praticamente resolvido, só
faltava a colaboração dos médicos que não cumpriam com a sua produtividade –
vale aqui repetir: médicos com salários atrasados e trabalhando em ambientes
inadequados.
Entenderam
o que é produtividade médica para um gestor comercial?
Eu
respondo: apenas uma nota fiscal com o número de pacientes pobres atendidos.
Gabriel
Novis Neves
27-04-2012
* Publicado simultaneamente no www.bar-do-bugre.blogspot.com