É
a que se pratica nos melhores centros médicos do país. O paciente é
transformado em um número - entre senhas, computadores, máquinas, robôs, macas,
corredores, filas, ambulatórios, consultórios, laboratórios, centros
cirúrgicos, UTIs.
Nesse
momento desaparece o paciente ávido por alguém que se preocupe com a sua
história de vida. Fragilizado, ouve vozes de comando programadas por aparelhos,
quando necessita de vozes humanas que conheceu ainda na vida intrauterina, por
volta da vigésima semana de gestação.
As
vozes que ouve para orientá-lo nos procedimentos são robóticas, sem nenhuma
emoção – que só a voz humana é capaz de transmitir.
O
diagnóstico atual de uma doença orgânica é feito pelos exames complementares,
como se eles pudessem entender um olhar de sofrimento ou produzir uma sedação
pelo contato com as mãos do paciente.
Geralmente,
na medicina moderna, o paciente não possui um médico e, tampouco, hospital,
fatores tão importantes na reabilitação dos enfermos.
O
conhecimento médico é abastecido diariamente por tantas informações novas, que
o saber ficou microfracionado e o paciente precisará ser atendido por uma
infinidade de especialistas.
É
comum um paciente grave ser atendido por uma série de especialistas, só que
nenhum deles é o responsável pelo paciente.
O
idoso é o que mais padece por falta de um médico, embora frequente um grande
número de especialistas.
Não
é só o doente que sofre com o atendimento da medicina atual.
O
médico dos tempos atuais está prensado entre a ‘educação continuada’, fornecida
pela indústria farmacêutica nos consultórios e ambulatórios médicos, como pelo
próprio ensino universitário, que informa sobre as milagrosas novas drogas. São
os professores universitários que em sala de aula transmitem ao aluno de medicina
as excelências das suas pesquisas aos laboratórios das multinacionais.
Os
cursos de medicina não são mais procurados pelos jovens que desejam exercer a
medicina da área básica: saúde pública, clínica geral, cirurgia geral, clínica
pediátrica e ginecologia e obstetrícia.
Diante
dessa pequena foto da nossa medicina moderna, inacessível à população de baixa
renda, e maioria neste país, convido a todos a uma reflexão sobre o nosso
futuro em tempos de eleições.
O
modelo vigente é para os ricos.
Os
pobres jamais terão acesso às conquistas caríssimas da ciência médica. Terão
que se contentar com a justificativa de que falta somente gestão para melhorar
a saúde deles.
Nunca
falarão em recursos tecnológicos como os oferecidos pelo hospital Sírio Libanês
e Albert Einstein - só para citar dois exemplos.
Gabriel
Novis Neves
18-07-2012