O
Presidente da Associação Brasileira de Medicina da Família, Tiago Souza Neiva,
publicou no Correio Brasiliense de 6 de maio de 2013 um artigo sobre a
prevenção.
Por
se tratar de matéria pertinente a todos nós, passo a transcrevê-lo.
Segundo
o autor, o princípio que a prevenção é melhor que a cura é incontroverso. Ele
questiona se a prevenção é mesmo o melhor remédio.
"Novos
conhecimentos apontam para o fato de que a prevenção também pode causar danos.
Checapes
gerais, exames envolvendo múltiplos testes em pessoas que não apresentam sinais
ou sintomas de doenças - objetivando o achado de condições patológicas - são
elementos comuns a sistemas de saúde em muitos países.
Esses
exames, segundo recente artigo do conceituado Jama Internal Medicine, estão entre as razões mais comuns para a
consulta a médicos nos Estados Unidos, com uma estimativa de que 44 milhões de
americanos viram um médico anualmente entre 2002 e 2004.
Foram
gastos cerca de US$ 322 milhões por ano com testes laboratoriais que nenhum
consenso médico recomendou. É provável que testes de acompanhamento de exames
de saúde gerais contribuam, substancialmente, para os estimados US$ 210 bilhões
em gastos anuais com serviços médicos desnecessários, segundo o Institute of Medicine.
Para
grande parte da população esses exames, intuitivamente, fazem todo o sentido.
Afinal,
a prevenção seria a solução para uma vida saudável.
Entretanto,
recente publicação do The Cochrane
Collaboration, conceituada rede internacional de pesquisadores dedicada a fazer
revisões da literatura científica a fim de prover informações mais adequadas
para as decisões clínicas, mostrou que os benefícios de tais exames podem ser
muito menores do que o esperado, assim como muito mais danosos.
Uma
possibilidade de dano por checapes é o diagnóstico e o tratamento de condições
que não são destinados a causar sintomas ou morte.
Esses
diagnósticos serão, portanto, supérfluos, e acarretarão o risco de tratamentos
desnecessários.
Segundo
o The Cochrane Collaboration,
foram identificados 16 estudos clínicos randomizados (com elevado nível de
evidências) que incluiriam mais de 180 mil participantes e que compararam
grupos de adultos, parte dos quais fizeram exames, enquanto outros não os
fizeram.
Não
houve efeito dos testes laboratoriais no risco de morte, seja devido a doenças
cardiovasculares ou cânceres, assim como não houve efeitos em eventos clínicos
ou outras medidas de morbidade.
A
conclusão dos autores foi que checapes não são capazes de reduzir
morbi-mortalidade, embora possa haver um aumento do número de diagnósticos.
Por
conseguinte são, provavelmente, pouco benéficos.
Essas
evidências, e tantas outras similares, que têm ressaltado o quanto o excesso de
prevenção pode trazer benefícios duvidosos e com riscos aumentados, fortalecem
um novo tipo de atitude médica - a prevenção quaternária, termo
cunhado por Marc Jamoulle, médico de
família e comunidade belga, em meados de 1986.
O
meio mais eficaz de se atingir a prevenção quaternária é ouvir melhor os
pacientes - a chamada medicina baseada na narrativa.
Concluindo.
A prevenção pode ser o melhor remédio somente nos casos em que exista uma
relação forte e sustentável entre o médico e seu paciente. Uma relação de mútua
confiança, quando a conduta médica é profundamente fundamentada no conhecimento
específico.
De
outro modo, pode ser o pior investimento na doença, não na saúde".
Gabriel Novis Neves
02-06-2013
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Publicado simultaneamente no www.bar-do-bugre.blogspot.com