Como
são ingratas certas profissões! A do médico, por exemplo.
Dias
atrás li um artigo em uma revista médica o relato de um dos maiores
neurocirurgião acerca de uma complexa cirurgia que teve a duração de mais de
doze horas.
Após
a realização cirúrgica dirigiu-se aos familiares do paciente que aguardavam
apreensivos pelo resultado.
Durante
alguns minutos explicou a gravidade da intervenção e disse que, apesar das
dificuldades técnicas do ato cirúrgico, o prognóstico era bom, tudo dependendo
da evolução do pós-operatório imediato.
Após
responder as inúmeras perguntas dos familiares e amigos do paciente, pediu
permissão para se retirar, pois precisava descansar e o paciente estava sob os
cuidados especializados na UTI.
A
família alegre agradeceu “aos céus” pelo sucesso da cirurgia de alto risco.
O
médico está treinado e preparado com este tipo de reação. Ele sabe que a ele só
cabe a paternidade dos procedimentos malsucedidos.
Médico
não cura, às vezes ajuda a aliviar o sofrimento. Não costuma esperar pelo
reconhecimento dos seus pacientes pelos sucessos alcançados.
Não
se sente injustiçado por esse hábito da nossa cultura. Essa é a vida de quem se
dedica a essa profissão.
Outro
exemplo de profissão ingrata é a do profissional da construção civil, especificamente,
a de pedreiro. Esta, além de ingrata, é, muitas vezes, injusta com o
profissional.
São
eles – os pedreiros - os escultores de edifícios e apartamentos de beleza
extraordinária. Entretanto, após a conclusão de seu trabalho não podem nem
contemplar a beleza de sua obra.
Soube
outro dia que um homem humilde estava em frente a um edifício e que lá ficou
por um determinado tempo olhando para o prédio. O porteiro, incomodado com a
presença do estranho, avisou o síndico, que foi conversar com ele.
Ao
retornar, o síndico esclareceu ao porteiro que aquele homem era um simples
pedreiro, e que ele fez parte da equipe responsável pela construção do prédio.
O
pedreiro estava, tão somente, admirando a sua obra de arte. Por sua
simplicidade foi interpelado pelo síndico e, teve sorte, poderia ter sido pela
polícia.
Assim
são certas profissões – poderia citar umas tantas dezenas delas onde o
reconhecimento do profissional não é frequente. Muitos ficam no anonimato e
outros têm sua destreza e sucesso computados a outros.
Gabriel Novis Neves
05/02/2014
*
Publicado simultaneamente no www.bar-do-bugre.blogspot.com