sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

CONFERÊNCIAS

Há cinquenta e nove anos venho assistindo conferências, palestras, seminários, defesas de teses, aulas sobre assuntos médicos.
Lembro-me da primeira palestra em que estive presente. Foi no Hospital Miguel Couto, à noite, no Rio de Janeiro. O palestrante foi o professor Nova Monteiro, com o tema “Traumas”.
Era o ano de 1955, e marcou o início de uma interminável rotina que cumpro até os dias de hoje.
Nesse pacotão incluo temas interessantes defendidos com brilhantismo por muitos mestres, e outros não tão atrativos.
Dia desses, aqui no nosso Conselho Regional de Medicina (CRM-MT), tive a oportunidade de presenciar a uma das mais brilhantes conferências da minha carreira médica.
Foi o relato da tese de doutorado do nosso conterrâneo, o médico José Pedro Rodrigues Gonçalves.
 “Cuidado original. Ética e técnica no final da vida.” Era o tema.
Didaticamente, durante setenta e cinco minutos, o erudito conferencista demonstrou todo o seu conhecimento de como exercer a medicina no século XXI.
Propôs mudanças avançadas, pregando uma nova relação do ser humano com a ética, a técnica, a vida e a mente.
No mundo dominado pela tecnologia, onde a medicina está impregnada com a ideia da sua eficiência, poucos suportarão  que este é o momento de abandonar a medicina dos protocolos fabricados pelas universidades, incentivadas pelas indústrias de equipamentos e medicamentos.
Tratar de um corpo doente não é atividade médica prioritária e, sim, cuidar do indivíduo para salvá-lo da doença.
Superar vulnerabilidades humanas inibe as doenças. Vida saudável é aquela que incorpora valores úteis à nossa qualidade de vida.
O médico moderno é aquele que consegue a aceitação do seu paciente.
O humanismo está sendo vencido em um setor onde nem sempre a tecnologia resolve.
Felizmente temos ilhas de avanços, como o grupo que trabalha com o tratamento compartilhado, onde a doença não é vista com uma patologia individual, e sim, do grupo familiar.
Para tentar alcançar a sua eficácia, todos os familiares devem se tratar com uma equipe multidisciplinar, ou dificilmente haverá a possibilidade de se recuperar a saúde perdida.
A educação mal conduzida produz neuróticos com sentimentos de culpa, e a dignidade das pessoas é um bem inegociável.
Lembrei-me muito do sábio Einstein. Dizia ele que não suportaria vivenciar o dia em que o humanismo fosse derrotado pela tecnologia.
Esse dia chegou. Só a educação de qualidade e para todos poderá nos salvar.

Gabriel Novis Neves
13-02-2014

* Publicado simultaneamente no www.bar-do-bugre@blogspot.com

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