Há
cinquenta e nove anos venho assistindo conferências, palestras, seminários,
defesas de teses, aulas sobre assuntos médicos.
Lembro-me
da primeira palestra em que estive presente. Foi no Hospital Miguel Couto, à
noite, no Rio de Janeiro. O palestrante foi o professor Nova Monteiro, com o
tema “Traumas”.
Era
o ano de 1955, e marcou o início de uma interminável rotina que cumpro até os
dias de hoje.
Nesse
pacotão incluo temas interessantes defendidos com brilhantismo por muitos
mestres, e outros não tão atrativos.
Dia
desses, aqui no nosso Conselho Regional de Medicina (CRM-MT), tive a
oportunidade de presenciar a uma das mais brilhantes conferências da minha
carreira médica.
Foi
o relato da tese de doutorado do nosso conterrâneo, o médico José Pedro
Rodrigues Gonçalves.
“Cuidado original. Ética e técnica no final da
vida.” Era o tema.
Didaticamente,
durante setenta e cinco minutos, o erudito conferencista demonstrou todo o seu
conhecimento de como exercer a medicina no século XXI.
Propôs
mudanças avançadas, pregando uma nova relação do ser humano com a ética, a
técnica, a vida e a mente.
No
mundo dominado pela tecnologia, onde a medicina está impregnada com a ideia da
sua eficiência, poucos suportarão que
este é o momento de abandonar a medicina dos protocolos fabricados pelas
universidades, incentivadas pelas indústrias de equipamentos e medicamentos.
Tratar
de um corpo doente não é atividade médica prioritária e, sim, cuidar do
indivíduo para salvá-lo da doença.
Superar
vulnerabilidades humanas inibe as doenças. Vida saudável é aquela que incorpora
valores úteis à nossa qualidade de vida.
O
médico moderno é aquele que consegue a aceitação do seu paciente.
O
humanismo está sendo vencido em um setor onde nem sempre a tecnologia resolve.
Felizmente
temos ilhas de avanços, como o grupo que trabalha com o tratamento
compartilhado, onde a doença não é vista com uma patologia individual, e sim,
do grupo familiar.
Para
tentar alcançar a sua eficácia, todos os familiares devem se tratar com uma
equipe multidisciplinar, ou dificilmente haverá a possibilidade de se recuperar
a saúde perdida.
A
educação mal conduzida produz neuróticos com sentimentos de culpa, e a
dignidade das pessoas é um bem inegociável.
Lembrei-me
muito do sábio Einstein. Dizia ele que não suportaria vivenciar o dia em que o
humanismo fosse derrotado pela tecnologia.
Esse
dia chegou. Só a educação de qualidade e para todos poderá nos salvar.
Gabriel
Novis Neves
13-02-2014
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