Um querido amigo jornalista certa ocasião em um bate papo perguntou-me: “- Qual o seu estilo de escrever?”
Ocupei cargos importantes no serviço público no período entre 1966-1985, com uma patológica recaída de nove meses em 2003. Durante todos esses anos, só para colação de grau na UFMT, escrevi cerca de quarenta discursos. Não estou contando as formaturas de 1º e 2º graus em todo o Estado de Mato Grosso como Secretário Estadual de Educação.
O experiente jornalista, que sempre acompanhou o meu trabalho, não conseguia identificar o meu estilo de escrever. Expliquei-lhe que publiquei muitos textos, e escrevi até para orelha de livros. Faltava-me até tempo para a produção desses trabalhos. O tema das falas era sempre escolhido por mim. Discutia com a equipe de colaboradores que desenvolviam as idéias, mas a redação e edição final eram da minha inteira responsabilidade. Sempre me davam muito trabalho - especialmente para a colação de grau - o título e o conteúdo do discurso - considerado avançado para a época.
Em uma colação de grau falei de um bife que foi lançado ao chão. Ao entrar certa vez no recém inaugurado Restaurante Universitário (com satisfação e um pouco de melancolia, lembrando do tempo em que fazia as refeições no Restaurante da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha do Rio de Janeiro), vejo um aluno, provavelmente com hipoglicemia, receber de uma humilde funcionária o seu “bandejão.” Um enorme bife estava colocado em cima de um morro de arroz. Com o garfo o aluno tentou espetá-lo para levá-lo à boca. Com o insucesso, devido à carne não estar tão macia para a dentada que iria encher-lhe a boca de carne, lança o bife ao chão. Foi uma cena que não consegui esquecer, e serviu de tema para o discurso da formatura daquele ano. Ao lançar as proteínas no chão, alguém teria que abaixar-se para jogá-lo no lixo. Esse alguém, talvez ao sair de casa, não possuísse um pedaço de carne sequer para alimentar os seus filhos. A reflexão foi sobre a injustiça social representada naquele ato e o humanismo que sempre deve nos acompanhar.
Outro discurso que marcou muito o meu estilo foi o da colação de grau de janeiro - logo após a divisão do Estado. O povo cuiabano estava cabisbaixo e perdido a sua auto-estima. Em vez da tradicional exaltação para aqueles que tiveram oportunidade de cursar um curso superior e os famosos agradecimentos aos vivos e mortos, fui direto à ferida. No discurso iniciei dizendo que desde o nascimento da UFMT tínhamos as costas viradas para o sul do nosso Estado e o nosso único interesse era o norte. Para tentar elevar a auto-estima da minha gente, traduzi esse tempo em horas. Notei a mudança nas fisionomias dos presentes que lotavam o nosso Ginásio de Esportes. Mais uma vez os “pistoleiros intelectuais” trabalharam na elaboração do documento.
Passados os anos a amizade e a admiração pelo velho jornalista continuam e o meu estilo de escrever é este que está disponível no www.bar-do-bugre.blogspot.com e no www.gnn-cultura.blogspot.com.
Gabriel Novis Neves
Cuiabá, 11/12/2009
Ocupei cargos importantes no serviço público no período entre 1966-1985, com uma patológica recaída de nove meses em 2003. Durante todos esses anos, só para colação de grau na UFMT, escrevi cerca de quarenta discursos. Não estou contando as formaturas de 1º e 2º graus em todo o Estado de Mato Grosso como Secretário Estadual de Educação.
O experiente jornalista, que sempre acompanhou o meu trabalho, não conseguia identificar o meu estilo de escrever. Expliquei-lhe que publiquei muitos textos, e escrevi até para orelha de livros. Faltava-me até tempo para a produção desses trabalhos. O tema das falas era sempre escolhido por mim. Discutia com a equipe de colaboradores que desenvolviam as idéias, mas a redação e edição final eram da minha inteira responsabilidade. Sempre me davam muito trabalho - especialmente para a colação de grau - o título e o conteúdo do discurso - considerado avançado para a época.
Em uma colação de grau falei de um bife que foi lançado ao chão. Ao entrar certa vez no recém inaugurado Restaurante Universitário (com satisfação e um pouco de melancolia, lembrando do tempo em que fazia as refeições no Restaurante da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha do Rio de Janeiro), vejo um aluno, provavelmente com hipoglicemia, receber de uma humilde funcionária o seu “bandejão.” Um enorme bife estava colocado em cima de um morro de arroz. Com o garfo o aluno tentou espetá-lo para levá-lo à boca. Com o insucesso, devido à carne não estar tão macia para a dentada que iria encher-lhe a boca de carne, lança o bife ao chão. Foi uma cena que não consegui esquecer, e serviu de tema para o discurso da formatura daquele ano. Ao lançar as proteínas no chão, alguém teria que abaixar-se para jogá-lo no lixo. Esse alguém, talvez ao sair de casa, não possuísse um pedaço de carne sequer para alimentar os seus filhos. A reflexão foi sobre a injustiça social representada naquele ato e o humanismo que sempre deve nos acompanhar.
Outro discurso que marcou muito o meu estilo foi o da colação de grau de janeiro - logo após a divisão do Estado. O povo cuiabano estava cabisbaixo e perdido a sua auto-estima. Em vez da tradicional exaltação para aqueles que tiveram oportunidade de cursar um curso superior e os famosos agradecimentos aos vivos e mortos, fui direto à ferida. No discurso iniciei dizendo que desde o nascimento da UFMT tínhamos as costas viradas para o sul do nosso Estado e o nosso único interesse era o norte. Para tentar elevar a auto-estima da minha gente, traduzi esse tempo em horas. Notei a mudança nas fisionomias dos presentes que lotavam o nosso Ginásio de Esportes. Mais uma vez os “pistoleiros intelectuais” trabalharam na elaboração do documento.
Passados os anos a amizade e a admiração pelo velho jornalista continuam e o meu estilo de escrever é este que está disponível no www.bar-do-bugre.blogspot.com e no www.gnn-cultura.blogspot.com.
Gabriel Novis Neves
Cuiabá, 11/12/2009
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