Constato,
com pesar, o abusivo e indiscriminado uso de cirurgias cesarianas.
O
Brasil é um dos países recordistas nesse procedimento que determina mês, dia e
o horário de nascimento de nossas crianças.
A
cirurgia obstétrica foi uma das grandes conquistas da medicina moderna - quando
usada com critérios preestabelecidos através de protocolos internacionais.
Não
obedecidas as normas protetoras da
saúde do binômio mãe-feto, transforma-se em notícias das páginas policiais.
A
mulher, que a princípio foi programada pela mãe natureza para o parto natural,
aos poucos viu esse privilégio ser colocado como excepcionalidade na reprodução
humana.
A
extração cirúrgica do feto, mesmo antes da data provável do parto, salvou da
morte, milhares de mulheres e de recém-natos.
Para
esse aumento incontrolável da taxa de partos cirúrgicos, múltiplos fatores
foram determinantes.
A
judicialização da medicina e a remuneração não condizente ao período de
trabalho de parto, cuja duração varia de 10 a 12 horas, além da implantação,
com sucesso, da ideologia da eficiência tecnológica pelas mídias, foram, com
certeza, fatores preponderantes.
Acrescente-se
a isso, o despreparo de muitas das nossas escolas médicas na formação de obstetras,
além da desumanização que tem sofrido a medicina nas últimas décadas.
Em
algumas clínicas particulares o parto natural só acontece se a gestante for
internada em período expulsivo.
Nas
maternidades públicas a taxa de partos cesáreos é, pelo menos, o dobro da
recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O
nosso sistema educacional tradicional básico é um grande incentivador do “parto
sem dor”, tido e sabido, erroneamente, como sendo a cesariana.
Por
essas razões, pesquisas entre gestantes demonstram uma maior preferência pelo
parto cesáreo, isso sem falar na possibilidade de uma laqueadura das trompas
durante a cirurgia, e que acaba se tornando o sonho anticoncepcional de muitas
mulheres.
Para
inverter esse quadro equivocado seriam necessárias, não apenas campanhas
sazonais, mas, principalmente, uma
abordagem já nos ensinos fundamental e médio - complementadas pela educação
caseira.
Nossos
governantes precisam também ter uma visão social para este problema que vem se
tornando um flagelo de saúde pública no nosso país.
Gabriel
Novis Neves
09-10-2015
*
publicado simultaneamente no www.gnn-cultura.blogspot.com
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