Quando
iniciei os meus estudos formais na Escola Modelo Barão de Melgaço, aprendi,
entre outras coisas, que para usar o sanitário da instituição existia um
protocolo.
Na
mesa da professora havia uma pequena placa de madeira que indicava vacância do
lugar para uso fisiológico de emergência.
Os
alunos, quando em necessidade, sempre pediam permissão à professora, que
autorizava sua utilização, mas com a recomendação de não demorar...
No
começo da minha atividade como médico parteiro em Cuiabá, a maioria dos partos
era realizada em domicílio. Os demais, na pequena maternidade da Rua 13 de
junho.
Quando
o trabalho de parto ultrapassava os limites possíveis do tempo, havendo risco
de vida para o binômio feto-mãe, a parteira que atendia a intercorrência pedia
para um familiar buscar o “breve” na casa da última parturiente, que havia
utilizado com sucesso.
Consta
da nossa história que uma oração milagrosa foi embrulhada em uma pequena bolsa
de tecido comum e presa em cordão que era colocado pela cabeça da parturiente.
Esta
agarrava forte aquela relíquia que, segundo a lenda e depoimentos de pessoas da
época, produziam uma expulsão fetal da cavidade uterina quase imediata.
Após
mais um sucesso dessa crença, na devolução, um novo tecido era colocado em cima
da bolsa inicial.
Eram
tantas as solicitações para uso desse amuleto para o parto rápido, que o
aumento das camadas de tecido fizeram um cordão do tamanho de uma grande
bolacha.
Certa
ocasião, um experiente obstetra foi chamado à casa de uma mulher com complicado
e demorado período expulsivo.
Analisou
bem a situação e ia retirando da sua bolsa de emergência um pequeno fórceps
francês para a extração de alívio do feto, já com uma tremenda bolsa
serosanguinolenta na região vulvar, quando, em contração, com firmeza máxima ao
apertar o “breve”, aconteceu aquilo que o doutor imaginava não ser possível sem
ajuda da tecnologia.
O
recém-nato nasceu chorando, para alegria de todos que comemoraram tomando a
urina da criança - um bom vinho português.
Curioso
com tudo que presenciou, e ciente da fama do “breve”, que significava parto
rápido, o parteiro pediu permissão para conhecer a oração milagrosa.
Com
uma gilete desfez todas as costuras e, finalmente, encontrou um pequeno papel
com a seguinte inscrição: “Quer parir, pari, não quer, não pari”.
Ficou
provado que a medicina não faz milagres, e que a fé, realmente, remove
montanhas.
Gabriel
Novis Neves
19-10-2015
* Publicado
simultaneamente no www.bar-do-bugre.blogspot.com
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