quinta-feira, 28 de julho de 2022

PROFESSOR SEDUZIDO PELAS BELEZAS DE UTIARITI

 

O professor Danilo Perestrelo foi meu professor de medicina, na disciplina de clínica médica. Lecionava medicina psicossomática, uma novidade no Brasil.


Ele foi considerado o “pai da medicina psicossomática” no Brasil.


Autor de livros sobre como tratar de humanos.


Muito famoso, lecionava essa nova disciplina na UFRJ, atendia a um consultório muito frequentado e viajava pelo Brasil e exterior proferindo palestras.


Certa ocasião, em companhia da sua mulher, que era psicanalista e professora, foram me visitar na sala de partos, número dois da UFMT (Gabinete do Reitor).


Estavam fazendo uma visita ao Pantanal e à Chapada dos Guimarães.


Sabedor que um ex-aluno seu estava implantando uma universidade federal, se animou para uma conversa.


O casal de professores, estava encantado com tudo que viram de belo nos lugares onde foram levados, inclusive com a nossa culinária.


Trocamos ideias sobre a implantação de uma universidade federal, em uma região tão distante dos centros desenvolvidos.


Essa é a minha missão professor, respondi.


Meus assessores têm que ser “selváticos”, como Noel Nutels, irmãos Vilasboas e os padres jesuítas da selva.


Perguntei se conhecia um hospital indígena, tão diferente daquele que me haviam ensinado na faculdade.


Cheio de redes de cipó e trepadeiras e de algodão.


Muitas vezes o hospital indígena estava lotado com apenas um índio internado.


Nessas nações não se internava apenas o paciente, mas todo o grupo tribal.


O velho professor e sua mulher ficaram curiosos em poder conhecê-lo.


Providenciei os seus transportes, e cedo o aviãozinho da Missão Anchieta, decolou com o casal de pesquisadores psicanalistas, para retornar à tardinha.


No outro dia voltaram à sala de partos (Gabinete da Reitoria) para se despedirem, agradecer o passeio e comentá- lo.


Disse-me Perestrelo, do seu “deslumbramento” com a Chapada do “Véu da Noiva” e a beleza da natureza do pantanal.


Nada porém comparável ao respeito humano dos povos primitivos.


O cuidado para o tratamento humanizado que encontrou no hospital indígena, era desconhecido para ele.


A beleza das águas da cachoeira do Utiariti o fez, com a sua mulher, deixarem as suas roupas para mergulharem nelas!


Voltou para o Rio disposto a introduzir novas técnicas ao tratamento psicossomático.


Aprendeu muito na sua visita à selva.


Gabriel Novis Neves

25-02-2022


Professor Danilo Perestrello

Cachoeira de Utiariti


O Grupo de Utiariti

Índio da região

Enfermaria com rede para acompanhante
O
Enfermaria para Covid


quarta-feira, 27 de julho de 2022

CONSULTÓRIO TERAPÊUTICO

 

Cuiabá possuiu nos anos 90, um consultório médico e também de “terapia visual”, para gestantes.


O Ministério da Saúde, cientificado da sua existência, esteve aqui e o fotografou.


A idéia seria reproduzi-lo nos consultórios do PSF.


Não deu em nada, como sempre, pois o “custo era baixíssimo”.


Esse projeto foi pensado para fornecer ao máximo, informações visuais as gestantes que iam fazer o Pré Natal.


A coordenação geral foi do Fernando Pace.


Reuniu fotógrafos, artistas plásticos, ceramistas, artesãos, índios e madeireiros.


A gestante, geralmente muito jovem, visitava pela 1ª vez uma temida consulta com um médico do sexo masculino.


Logo ao entrar à sala de consulta via, em tamanho normal, uma foto em preto e branco de uma jovem mulher na janela de um prédio colonial.


Ela, com os cabelos negros a lhe cobrir parte do rosto.


Vestia uma bela e transparente camisola branca.


Ao defrontar com esse quadro que tomava toda a parede frontal da sala de consultas, ainda extasiada pela surpresa exclamava: como é linda!


Eu apenas respondia: e ela está gravida!


Naquele momento desfazia para a jovem gestante o conceito errôneo que apreendera que gravidez é sinônimo de ficar feia.


Acima de uma velha porta de igreja transformada em mesa, uma negra e índia em escultura de barro e, na parede, um quadro de mulher branca amamentando seu filho, mostrava que em todas as raças amamentar era importante.


Os índios xavantes me deram uma coleção de cerâmica, mostrando as mais variadas posições de parir.


De qualquer jeito, na hora do nascimento a criança nasce.


A gestante ficava ao final do pré-natal de no mínimo 8 consultas, totalmente dependente emocionalmente do seu prenatalista.


Angustiada queria saber, quando em trabalho de parto, onde me encontraria.


Nas minhas costas, bem acima da minha cabeça, pregada à parede uma escultura em gás neon de uma mulher grávida.


O significado era que eu só pensava nela.


No momento que precisasse de mim, me encontraria com facilidade.


Finalmente, queria saber o valor dos meus honorários médicos.


À minha esquerda na parede, um quadro de um artista plástico mostrava um centro obstétrico transformado em verdadeiro açougue de criaturas humanas.


Um terror. Assim era como o artista via o atendimento público.


Sem dignidade e respeito humano.


E o governo “sempre arrecadou com a cobrança de impostos muito dinheiro”.


Eu oferecia um tratamento humanizado, e isso é accessível a todos.


Tranquila ficava em casa aguardando o início do trabalho de parto para se internar e parir o filho comigo.


Hoje esse consultório está em minha casa.


Minhas clientes antigas, por certo terão recordação do consultório de terapia visual, que um dia Cuiabá teve.


Gabriel Novis Neves

25-01-2022










segunda-feira, 25 de julho de 2022

CIDADE GRANDE E PEQUENA


Nasci em cidade pequena e nunca tive problemas para me comunicar.


Bastava sair de casa para encontrar quem desejava, não precisando de telefone que era preso na parede, ou de transporte coletivo só quando essa pessoa morava no Porto.


Morei no Rio de Janeiro, cidade grande no início da metade do século passado.


Todo mundo tinha uma pequenina caderneta com endereços e telefones residenciais.


Quando em dificuldade, o catálogo telefônico resolvia a situação, onde contávamos com os residenciais e comerciais, que eram atualizados todos os anos.


E as pessoas atendiam aos chamados.


Quando retornei à Cuiabá, minha mulher que era argentina carioca, tinha uma cadernetinha de endereços para uso na bolsa e uma agenda preta bem maior com espiral, onde por ordem alfabética anotava os endereços para uso cotidiano.


Até que apareceram os telefones móveis, chamados de celulares, e os contatos foram colocados no celular, aposentando as cadernetas de anotações de endereços.


As comunicações ficaram tão simplificadas neste século XXI, que até consultas médicas se fazem à distância.


Quero falar com um médico meu primo, cinco anos mais novo que eu, e não consigo.


Depois de muito insistir com amigos, consegui à noite realizar o meu desejo, é fui compensado com juros e correção monetária emocional.


Conversamos pelo celular por cerca de quarenta e cinco minutos.


Não nos víamos há mais de cinquenta anos, embora estivesse ido inúmeras vezes ao Rio, sempre com muita pressa e a agenda apertada para esses devaneios.


Depois que retornei à Cuiabá, emendei uma tarefa na outra sempre mais difícil, até a minha aposentadoria há seis anos.


Toda a minha carreira de médico e homem público foi realizada aqui.


Ele que é carioca, exerceu a medicina no Rio, onde conquistou todos os títulos universitários, aprimorando seus conhecimentos acadêmicos e culturais nos Estados Unidos e Europa.


Sérgio Novis, neurologista, foi meu calouro quando bolsista no Hospital e Pronto Socorro Municipal Souza Aguiar, equipe Cata Preta, do Rio de Janeiro.


Quando chegou, vivia colado às minhas saias, como dizem as mães cuiabanas aos seus filhos menores.


Depois, cresceu, adquiriu asas próprias e voou tão alto que me perdeu de vista.


Possui todos os títulos universitários de Neurologia da UFRJ, de Prof. Titular a de Prof. Emérito.


É membro da Academia Brasileira de Medicina.


O motivo da conversa, era literatura.


Eu acabara de publicar uma crônica sobre os médicos Novis de Cuiabá já em sua sexta geração, caminhando para a sétima daqui há três anos.


Não tinha informações para fazer o mesmo, com os Novis médicos da Bahia, cuja origem é de um cuiabano que como outros, foi estudar lá, casou-se e constituiu novo ramo da família Novis.


O patriarca dos Novis do Brasil, foi o Dr. Augusto Novis, baiano, o responsável por perpetuar a família, filho de um francês com baiana.


Após ter se formado em medicina, foi para à Marinha Imperial, sendo designado para servir em Cuiabá à época da Guerra do Paraguai.


Aqui se casou com uma cuiabana, e teve inúmeros filhos.


Dois dos seus filhos foram estudar medicina em Salvador, Alberto (meu avô) e Aristides (meu tio).


Aristides Novis médico, se casou por lá e constituiu família, tendo três filhos médicos: Aristides, Jorge e Aloysio Novis.


O Jorge e Aristides Filho, ficaram com o pai em Salvador exercendo com brilhantismo a carreira de médio e professor universitário.


Aloysio queria se especializar em otorrino, e foi aconselhado à ir ao Rio de Janeiro.


Ficou no Rio, onde foi professor titular da UFRJ e médico até se aposentar.


Seu filho Sérgio, carioca, concluiu a medicina, mora no Rio, é professor doutor em neurologia.


Sérgio Novis tem um filho e neto neurologistas, exercendo a profissão no Rio de Janeiro.


Compensou a luta por este resgate perdido dos Novis da Bahia, pois conheci o Jorge, Aloysio Novis e o meu querido Sérgio Novis.


O ramo baiano e o cuiabano, estão na sexta geração de médicos com a mesma genética.


Gabriel Novis Neves 

20-07-2022


Familia Aristides Novis
Seus filhos, 3 médicos:
Aristides Novis Filho
Aloysio Novis
Jorge Novis


Aloysio Novis


Equipe Cata Preta


Sérgio Augusto Novis



Sergio Novis, filho, neto e nora, neurologistas




quinta-feira, 21 de julho de 2022

NOSSAS MUSAS

 

A turma de médicos de 1960 da Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, era conhecida como a faculdade da Praia Vermelha e a Matriz, por ser a mais antiga do Rio.


Nossa turma, a maioria era de homens, mas o número de mulheres chamava atenção, numa prova que o curso tinha perdido o perfil de curso masculino.


Os alunos pertenciam praticamente a todos os estados do Brasil, pois naquela época existiam apenas vinte e sete escolas no território nacional, em sua maioria, federais.


Era considerada a melhor escola de medicina do pais, e seus professores pertenciam a elite da medicina.


Nosso professor de fisiologia, Thales Martins disputou o Prêmio Nobel de Medicina.


O de biofísica, Carlos Chagas Filho, foi um dos consultores científicos da Sua Santidade o Papa.


Muitos dos nossos professores foram ex-alunos da nossa escola, o que nos enchiam de orgulho.


Alunos bolsistas de quase todos os países da América do Sul e alguns europeus.


Os filhos e netos dos nossos grandes mestres, como Miguel Couto, eram nossos colegas de turma.


Personalidades como Noel Rosa (abandonou o curso após completar o segundo ano pela boemia), Ademar de Barros, estudaram na Matriz.


Muitos cuiabanos da minha geração estudaram na Praia Vermelha, além da sua excelência, era pública.


Ali foi também um grande laboratório social.


Os filhos dos professores e alunos cariocas faziam o “velho ginásio e científico”, no Colégio Pedro II, Santo Ignácio, Andrews, São José, São Zacarias e passavam direto no concurso do vestibular.


Os do interior eram obrigados, de um modo geral, a frequentarem bons cursinhos durante um ano, como o do Galotti, para enfrentarem o difícil e concorrido exame para realizarem os seus sonhos de serem médicos.


Os alunos que moravam no Rio faziam suas refeições em casa, e geralmente eram levados de automóveis para as aulas, ou caronas.


Os do interior, muito pobres, moravam na Casa do Estudante, nos fundos do prédio da faculdade.


Os remediados, como eu, moravam em vaga de quartos nas inúmeras pensões existentes na zona sul do Rio.


Outros se reuniam em “repúblicas de estudantes”, como a famosa da rua Santo Amaro na Glória e no Zacatecas, em Laranjeiras.


As refeições deste segundo grupo, de pobres e remediados, eram sempre no restaurante da faculdade, que ficava do lado esquerdo do prédio da faculdade.


Aos domingos pela manhã o almoço era no Calabouço, que atendia também estudantes carentes do ensino médio.


Os estudantes que moravam no Rio usavam também ônibus ou lotação, e eram geralmente aqueles que moravam na zona norte da cidade.


Os estudantes da casa dos estudantes, pensões, repúblicas e bandejão, usavam o bonde 4 como meio de transporte, e nós chamávamos com orgulho como “a turma do baixo clero”.


No vestibular três colegas passaram em primeiro lugar, sendo dois do baixo clero.


No tão esperado trote na avenida Rio Branco, com os calouros contentes de cabeças raspadas símbolo de vencedores, houve uma eleição para a escolha da rainha dos calouros.


Foram escolhidas pelo eleitorado, a maioria do baixo clero mais participativo, duas musas.


Por coincidência as duas moravam em Copacabana.


Uma morena e outra loira, da mesma idade (19 anos), e muito amigas, andando pelos corredores da faculdade sempre juntas.


Após uma eleição disputadíssima, venceu a morena Norminha, para rainha dos calouros 1955.


A princesa foi a loira Penha, sob vibrantes protestos dos seus fãs, que diziam que a eleição fora fraudada.


O pitoresco é que ambas não compareceram ao trote.


Norminha já nos deixou e a Penha, "irritantemente saudável", mora em uma cobertura na Vieira Souto, lê diariamente as minhas crônicas e comenta.


Continua bela!


Gabriel Novis Neves

13-07-2022









O "calouro" GABRIEL, no"trote" do vestibular










Restaurante CALABOUÇO, Rio de Janeiro








 



 







terça-feira, 19 de julho de 2022

Dr. ARTAXERXES NUNES DA CUNHA

 

Chegou para clinicar em Cuiabá um pouquinho depois de mim e era mato-grossense do sul.


Clínico geral, um dos últimos que conheci, extremamente minucioso nos exames dos seus pacientes.


Seu exame físico era geralmente com seus pacientes totalmente despidos de roupas, sendo temido por alguns.


Suas pastas com a anamnese eram super organizadas, escritas com caligrafia e gramáticas impecáveis, facilitando a leitura de todos que a manuseavam.


Durante muitos anos, com o seu inseparável colega Dr. Luís de Almeida Figueiredo, chefiaram a Clínica Médica do Hospital Geral.


Incontáveis vezes pedi o parecer do Dr. Artaxerxes, para as pacientes das enfermarias de obstetrícia e ginecologia.


Gostava muito de comparecer à sua salinha para esclarecer dúvidas dos seus pareceres médicos, que ficava no segundo andar do Hospital e Maternidade.


Dr. Artaxerxes, sempre com o estetoscópio no pescoço pendurado nos ombros, atendia enfermos em casa e no serviço médico da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, onde foi chefe por longos anos até se aposentar.


Tenho um irmão que por anos trabalhou na Assembleia, e até hoje sente saudades do seu médico que clinicava, não sentado em cadeiras vibradoras, com larga mesa e computador separando-o dos pacientes.


Fazia um exame clinico minucioso, que produzia um conforto em seu paciente, com receita quando necessária e raramente um pedido de exames complementares.


Nos dias atuais, infelizmente, a tecnologia substituiu o exame clínico por inúmeros e, as vezes inúteis exames complementares, afastando os pacientes pobres da saúde pública.


Dr. Artaxerxes não ficou rico exercendo a profissão de médico, pois não era seu propósito, dedicando o seu maior tempo ao atendimento dos carentes.


Homem extremamente educado, humano, inegociável em questões éticas e morais.


Gostava de se reunir à noite para conversar sentado em cadeira de balanço na calçada da casa da dona Dulce, líder política importante da Cuiabá antiga, na Praça Bispo Dom José.


Seus parceiros de papo eram os vizinhos da dona Dulce, como o professor Lídio Modesto, Hermínio Pastel, músico e funcionário público, pai do cantor Juarez Silva.


Luís Portela administrador público e, seu irmão Portela craque de futebol.


Benedito Pedro Dorileo, reitor da UFMT e, José de Carvalho, fundador do Clube Esportivo Dom Bosco.


Todos os políticos importantes como seu irmão Sebastião e Cleómenes Nunes da Cunha (primo), ambos deputados estaduais, frequentavam as conversas, na porta da casa da Dulce.


Ali no “rodão” de amigos, ele se desligava da medicina e tomava conhecimento de tudo que acontecia na cidade.


Foi o último médico do meu pai e, o atendia em casa, sem nunca ter cobrado honorários médicos.


A família Novis Neves tem imensa gratidão ao médico Dr. Artaxerxes, pai do nosso querido editor do blog do Bar do Bugre, Dr. João Nunes da Cunha Neto.


Gabriel Novis Neves

 21-06-2022


N.E.: Dr. Artaxerxes Nunes da Cunha é Patrono da cadeira n. 6 da Academia de Medicina de Mato Grosso. Formou-se médico pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro no ano de 1954.

(Atualmente, é a Escola de Medicina e Cirurgia da UNIRIO. Fundada em 10 de abril de 1912, a EMC é a segunda faculdade de medicina mais antiga do Rio de Janeiro e uma das mais tradicionais do Brasil, fazendo parte da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) desde 1979.)






MÉDICO DO FLAMENGO


Dos meus colegas quatro seguiram carreiras pouco habituais.


Dois se tornaram cientistas pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz em Manguinhos, no Rio de Janeiro.


Luiz Fernando Rocha Ferreira da Silva (também poeta) e Sérgio Gomes Coutinho, por anos estagiaram pelos principais Centros de Pesquisas dos Estado Unidos e Europa.


Professores da Escola de Saúde Pública da FIOCRUZ (Fundação Oswaldo Cruz) e membros da Academia Brasileira de Medicina.


O Brito, colega do CPOR, se especializou em medicina aeronáutica.


Encontrei-o por acaso no salão de embarque do Aeroporto de Brasília quando me disse que era chefe do serviço médico da Aviação Civil Brasileira.


O mais conhecido foi o italiano naturalizado brasileiro Giussepe Taranto, que praticou durante toda a sua vida, medicina esportiva.


Foi estagiário do Clube de Regatas do Flamengo, chefe do serviço médico do clube, durante o seu período de Ouro (1970-1980).


Conheceu todo Brasil, países das Américas e Europa.


Também alguns países Africanos e Asiáticos.


Nos jogos do Flamengo ficava no banco do técnico e jogadores reservas.


Quando um jogador se machucava era ele quem decidia se o jogador continuava em campo ou seria substituído.


O Flamengo veio à Cuiabá jogar pelo campeonato brasileiro da época.


Era um domingo pela manhã quando recebi uma chamada telefônica.


Era do Taranto.


Ele sabia que eu era cuiabano, morava aqui e era reitor.


Disse que estava hospedado no Hotel Fenícia com a delegação do Flamengo e que gostaria de me dar um abraço.


Perguntou se eu tinha filhos menores.


Diante da minha resposta, perguntou se eles eram torcedores do Flamengo e se eles gostariam de conhecer o Zico, em pleno apogeu da fama de ídolo de futebol de um time popular.


Ele sabia que eu não era Flamengo.


Coloquei os meus dois filhos no carro.


Em poucos minutos estava estacionando na porta do Hotel dos Hadads, cheio de seguranças.


Cheguei na recepção e pedi que chamassem o Dr. Taranto.


Minutos depois estava abraçando o meu colega, cujo último contato foi no dia 15 de dezembro de 1960, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, quando graduamos em medicina pela UB.


Conversou com os meus garotos e disse que os levariam até o quarto do Zico, que acabara de acordar às 11 h da manhã.


Pegamos o elevador e paramos no andar onde estava o ídolo.


Taranto abriu a porta do quarto, que não estava fechada com chave.


O Zico de calção e sem camisa tinha acabado de tomar o café e estava sentado na cama.


Ele mal olhou para mim e os meninos e, com desdém, a pedido do seu médico, autografou as duas camisas do Flamengo.


Zico foi um craque de sucesso no Maracanã.


Participou de três Copas do Mundo (1978-1982- 1986) e nunca foi campeão, nem eleito o melhor jogador do mundo, mesmo tendo jogado na Itália.


Encerrou a sua carreira de jogador de futebol no Japão.


Fracassou como técnico de futebol na Ásia, e até hoje é funcionário de um time no Japão.


Anos depois fui jantar no antigo restaurante Getúlio.


No calçadão eram colocadas mesas que atendiam fregueses de petiscos e cerveja.


Tinha acabado de sentar em uma mesa com a minha mulher quando o maitre veio me dizer que o Zico estava do lado de fora, provavelmente com o seu empresário.


Me indagou se não gostaria de ir até lá para cumprimenta-lo e lhe pedir autógrafos.


Agradeci a gentileza e preferi saborear o pacu cuiabano.


Gabriel Novis Neves

25-06-2022






segunda-feira, 18 de julho de 2022

SEXTA GERAÇÃO DE MÉDICOS NOVIS DE CUIABÁ

 

A família de médicos Novis começou em 1833, quando José Francisco Novis casou-se com uma senhora já viúva - D. Maria Luiza Corrêa.


Dele nasceram três filhos, que foram os primeiros Novis nascidos no Brasil.


Aristides Novis, Augusto Novis e Francisco José Novis.


Aristides Novis não se casou e gerenciou os negócios da família.


Augusto Novis, estudou medicina e foi quem perpetuou o nome da família, já que o caçula Francisco faleceu solteiro, com 25 anos de idade.


Augusto Novis nasceu em Salvador em 1837 e diplomou-se em medicina, na Bahia em 1855, após defender a tese sobre o tema: “Qual o melhor meio da cura da tísica pulmonar? ”


No ano seguinte, ingressou na Marinha Imperial, sendo designado para servir na flotilha de Mato Grosso, cuja base naval era Cuiabá.


Aqui chegou após mais de dois meses de longa viagem, sendo seu percurso navegando pelo litoral sul do Brasil até a bacia do Prata e dali subindo o rio Paraguai em direção a Mato Grosso.


Nessa época, a província de Mato Grosso constituía-se numa imensa área territorial de pouco mais de 50 mil habitantes e extensa fronteira de quatrocentas léguas (1680 km).


A assistência médica era precária e os poucos médicos disponíveis geralmente faziam parte do Corpo de Imperiais Marinheiros ou do Corpo de Saúde do Exército.


Ao atracarem no porto de Cuiabá os navios da Marinha Imperial, era comum que a elite da província recepcionasse os recém-chegados com grandes festejos.


Naquela oportunidade as comemorações seriam na residência do Dr. José Augusto da Costa Leite Falcão, tendo como anfitriã sua esposa D. Constança Carolina Gaudie Leite.


Ciente dos costumes da terra e informado da recepção, o Dr. Augusto Novis se fez presente na festa, onde conheceu uma jovem prendada e culta que não havia completado seus 17 anos, uma das filhas do casal e pela qual se apaixonou à primeira vista.


Seu nome era Maria da Glória Gaudie Leite que trazia o apelido carinhoso de Nharinha.


Do namoro ao noivado e casamento, tudo foi como num piscar de olhos.


Em 4 de março de 1862, estava consumada a união do casal Leite Novis.


Descendentes do Dr. Augusto Novis e Maria da Glória Leite Novis: Alfredo Novis, Américo Novis, Amada Novis, Arnaldo Novis, Constança Novis, Alberto Novis, Cordolina Novis, Arthur Novis, Achilles Novis, Corina Novis, Aristides Novis, Amarílio Novis.


Todos os homens têm o nome iniciado pela letra A e as mulheres com a letra C.


Dr. Augusto Novis é homenageado em Cuiabá, pela Academia de Medicina de Mato Grosso, sendo Patrono da Cadeira nº 7 e ocupada pelo cardiologista Dr.José Almir Adena.


Dr. Alberto Novis era médico, filho de Dr. Augusto Novis, médico.


Formou em medicina na Bahia em1898 e apresentou a sua tese: “Diagnóstico da gravidez sob o ponto de vista Médico Legal”.


Foi citado em livros de renomados mestres como Fernando Magalhães, Jorge Rezende, Afonso Henrique Furtado, entre outros.


Retornou à Cuiabá e se casou com Antonieta Correa de Almeida (Tutica).


Foi deputado estadual (1908-1912), quando começou a perder a audição.


Após percorrer clínicas na Europa, em 1913, ficou gerenciando indústrias do seu sogro.


Mais tarde fez um curso de especialização no Rio de Janeiro, e se tornou o 1º otorrino de Cuiabá.


Teve 7 filhas e um homem, que estudou medicina, e se formou na faculdade de medicina da Bahia.


Essa deliciosa história nos foi contada por Pedro Novis Neves, meu irmão, em seu livro “Raízes do Passado”.


Dr. Oswaldo Novis, filho único do Dr. Alberto Novis, foi sanitarista exercendo a sua profissão no Ministério da Saúde, onde por diversas vezes trabalhou em Cuiabá.


Casado não deixou descendentes.


Dr. Alberto Novis é lembrado em Cuiabá emprestando o seu nome a uma minúscula praça na entrada do Beco do Candeeiro.


Também como Patrono da cadeira nº 4 da Academia de Medicina de Mato Grosso, ocupada pelo seu neto Dr. Gabriel Novis Neves.


Aracy foi a 2ª filha do casal Alberto Novis e foi casada com Deodato Gomes Monteiro.


Teve um filho médico Dr. João Novis, e neto médico.


Irene Novis foi a 6ª filha do Dr. Alberto Novis e Tutica.


Casou-se com o comerciante Olyntho Neves (Bugre do Bar) e teve 9 filhos, cinco mulheres e 4 homens, constituindo os “noves neves”, como a minha mãe dizia, iniciando a dinastia dos médicos Novis Neves, em Cuiabá.


O primogênito Gabriel e o 4º Inon, estudaram medicina no Rio e retornaram casados para cá.


Gabriel com a Regina Pia Padilla de Borbon e Inon com Gelza Nery Pereira, onde exerceram as suas profissões até suas aposentadorias.


O primeiro é viúvo, está com 87 anos, tem 1 filha e 2 filhos, 5 netas e 1 neto, 2 bisnetas e 2 bisnetos.


O Inon tem 2 filhos, sendo que o mais velho, Athos Otávio é médico e mora em Niterói, exercendo sua especialidade no Rio e Niterói.


Gabriel tem um filho médico Fernando Gabriel, exercendo a sua profissão em Cuiabá.


Casado com Ana Thereza Sabóia Campos, tem um filho concluindo Direito em São Paulo e uma filha Nathália, médica formada em Cuiabá e fazendo o 2º ano de Residência Médica na UFMT.


Yara Novis, a filha mais velha de Irene e Bugre, é casada com o médico Édio Lotufo.


O casal tem dois filhos médicos, Silbene e Marcelo Lotufo.


Augusto Novis, Alberto Novis, Oswaldo Novis, Gabriel e Inon Novis, Silbene e Marcelo, Fernando Gabriel, Athos Otávio e Natália Novis, completam a 6ª geração de médicos com a mesma genética.


Há estudantes de medicina, chegando à sétima geração!


Gabriel Novis Neves 

14-07-2022



Dr. ALBERTO NOVIS 


Dr. OSWALDO NOVIS


Dr. JOÃO NOVIS

Dr. GABRIEL NOVIS NEVES, FERNANDO NOVIS NEVES E NATHÁLIA NOVIS 


Dr. INON NOVIS NEVES 


Dr. ÉDIO LOTUFO, SILBENE E MARCELO NOVIS LOTUFO


Dr. ATHOS OTÁVIO NOVIS