quinta-feira, 21 de julho de 2022

NOSSAS MUSAS

 

A turma de médicos de 1960 da Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, era conhecida como a faculdade da Praia Vermelha e a Matriz, por ser a mais antiga do Rio.


Nossa turma, a maioria era de homens, mas o número de mulheres chamava atenção, numa prova que o curso tinha perdido o perfil de curso masculino.


Os alunos pertenciam praticamente a todos os estados do Brasil, pois naquela época existiam apenas vinte e sete escolas no território nacional, em sua maioria, federais.


Era considerada a melhor escola de medicina do pais, e seus professores pertenciam a elite da medicina.


Nosso professor de fisiologia, Thales Martins disputou o Prêmio Nobel de Medicina.


O de biofísica, Carlos Chagas Filho, foi um dos consultores científicos da Sua Santidade o Papa.


Muitos dos nossos professores foram ex-alunos da nossa escola, o que nos enchiam de orgulho.


Alunos bolsistas de quase todos os países da América do Sul e alguns europeus.


Os filhos e netos dos nossos grandes mestres, como Miguel Couto, eram nossos colegas de turma.


Personalidades como Noel Rosa (abandonou o curso após completar o segundo ano pela boemia), Ademar de Barros, estudaram na Matriz.


Muitos cuiabanos da minha geração estudaram na Praia Vermelha, além da sua excelência, era pública.


Ali foi também um grande laboratório social.


Os filhos dos professores e alunos cariocas faziam o “velho ginásio e científico”, no Colégio Pedro II, Santo Ignácio, Andrews, São José, São Zacarias e passavam direto no concurso do vestibular.


Os do interior eram obrigados, de um modo geral, a frequentarem bons cursinhos durante um ano, como o do Galotti, para enfrentarem o difícil e concorrido exame para realizarem os seus sonhos de serem médicos.


Os alunos que moravam no Rio faziam suas refeições em casa, e geralmente eram levados de automóveis para as aulas, ou caronas.


Os do interior, muito pobres, moravam na Casa do Estudante, nos fundos do prédio da faculdade.


Os remediados, como eu, moravam em vaga de quartos nas inúmeras pensões existentes na zona sul do Rio.


Outros se reuniam em “repúblicas de estudantes”, como a famosa da rua Santo Amaro na Glória e no Zacatecas, em Laranjeiras.


As refeições deste segundo grupo, de pobres e remediados, eram sempre no restaurante da faculdade, que ficava do lado esquerdo do prédio da faculdade.


Aos domingos pela manhã o almoço era no Calabouço, que atendia também estudantes carentes do ensino médio.


Os estudantes que moravam no Rio usavam também ônibus ou lotação, e eram geralmente aqueles que moravam na zona norte da cidade.


Os estudantes da casa dos estudantes, pensões, repúblicas e bandejão, usavam o bonde 4 como meio de transporte, e nós chamávamos com orgulho como “a turma do baixo clero”.


No vestibular três colegas passaram em primeiro lugar, sendo dois do baixo clero.


No tão esperado trote na avenida Rio Branco, com os calouros contentes de cabeças raspadas símbolo de vencedores, houve uma eleição para a escolha da rainha dos calouros.


Foram escolhidas pelo eleitorado, a maioria do baixo clero mais participativo, duas musas.


Por coincidência as duas moravam em Copacabana.


Uma morena e outra loira, da mesma idade (19 anos), e muito amigas, andando pelos corredores da faculdade sempre juntas.


Após uma eleição disputadíssima, venceu a morena Norminha, para rainha dos calouros 1955.


A princesa foi a loira Penha, sob vibrantes protestos dos seus fãs, que diziam que a eleição fora fraudada.


O pitoresco é que ambas não compareceram ao trote.


Norminha já nos deixou e a Penha, "irritantemente saudável", mora em uma cobertura na Vieira Souto, lê diariamente as minhas crônicas e comenta.


Continua bela!


Gabriel Novis Neves

13-07-2022









O "calouro" GABRIEL, no"trote" do vestibular










Restaurante CALABOUÇO, Rio de Janeiro








 



 







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