Cuiabá possuiu nos anos 90, um consultório médico e também de “terapia visual”, para gestantes.
O Ministério da Saúde, cientificado da sua existência, esteve aqui e o fotografou.
A idéia seria reproduzi-lo nos consultórios do PSF.
Não deu em nada, como sempre, pois o “custo era baixíssimo”.
Esse projeto foi pensado para fornecer ao máximo, informações visuais as gestantes que iam fazer o Pré Natal.
A coordenação geral foi do Fernando Pace.
Reuniu fotógrafos, artistas plásticos, ceramistas, artesãos, índios e madeireiros.
A gestante, geralmente muito jovem, visitava pela 1ª vez uma temida consulta com um médico do sexo masculino.
Logo ao entrar à sala de consulta via, em tamanho normal, uma foto em preto e branco de uma jovem mulher na janela de um prédio colonial.
Ela, com os cabelos negros a lhe cobrir parte do rosto.
Vestia uma bela e transparente camisola branca.
Ao defrontar com esse quadro que tomava toda a parede frontal da sala de consultas, ainda extasiada pela surpresa exclamava: como é linda!
Eu apenas respondia: e ela está gravida!
Naquele momento desfazia para a jovem gestante o conceito errôneo que apreendera que gravidez é sinônimo de ficar feia.
Acima de uma velha porta de igreja transformada em mesa, uma negra e índia em escultura de barro e, na parede, um quadro de mulher branca amamentando seu filho, mostrava que em todas as raças amamentar era importante.
Os índios xavantes me deram uma coleção de cerâmica, mostrando as mais variadas posições de parir.
De qualquer jeito, na hora do nascimento a criança nasce.
A gestante ficava ao final do pré-natal de no mínimo 8 consultas, totalmente dependente emocionalmente do seu prenatalista.
Angustiada queria saber, quando em trabalho de parto, onde me encontraria.
Nas minhas costas, bem acima da minha cabeça, pregada à parede uma escultura em gás neon de uma mulher grávida.
O significado era que eu só pensava nela.
No momento que precisasse de mim, me encontraria com facilidade.
Finalmente, queria saber o valor dos meus honorários médicos.
À minha esquerda na parede, um quadro de um artista plástico mostrava um centro obstétrico transformado em verdadeiro açougue de criaturas humanas.
Um terror. Assim era como o artista via o atendimento público.
Sem dignidade e respeito humano.
E o governo “sempre arrecadou com a cobrança de impostos muito dinheiro”.
Eu oferecia um tratamento humanizado, e isso é accessível a todos.
Tranquila ficava em casa aguardando o início do trabalho de parto para se internar e parir o filho comigo.
Hoje esse consultório está em minha casa.
Minhas clientes antigas, por certo terão recordação do consultório de terapia visual, que um dia Cuiabá teve.
Gabriel Novis Neves
25-01-2022
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