São seis horas da manhã. Passo em frente ao Hospital de Olhos. Um enorme ônibus, destes em que o passageiro se aloja no segundo andar e é utilizado em viagens de longo percurso, encontra-se ali parado.
Na calçada inúmeras pessoas. Todas idosas, humildes, com ares de cansaço e sofrimento, carregando seus travesseiros, cobertores e outros pertences nas mãos. Aguardam o hospital privado iniciar o atendimento. Sendo um hospital dia, a noite fecha suas portas, geralmente, por volta das vinte e uma horas, após liberar os seus pacientes.
Observo a chegada de uma médica identificada pelo seu uniforme hipocratiano. É o símbolo de esperança para aquela gente silenciosa.
Prossigo na minha caminhada. Retorno pelo mesmo trajeto. A calçada do hospital está vazia. Todos os pacientes viajantes encontravam-se no interior do hospital.
Telefonei ao dono do hospital sobre a rotina daquela cena, antigamente com ambulâncias como meio de transporte e agora ônibus. Ele me informou que naquele dia foram realizadas, com sucesso, quarenta e quatro cirurgias de catarata. Continuou afirmando que a demanda reprimida no interior é enorme e que logo irei me acostumar com os ônibus.
Em Cuiabá a fila para cirurgia de catarata também é longa. Seria uma cena rotineira não fosse o atendimento em hospital privado.
O SUS não funciona em Mato Grosso? Fomos excluídos? Simplesmente não possuímos hospitais públicos. Esta pergunta precisa ser respondida pelas nossas autoridades.
Todos sabem que não funciona nada que é do governo. Ignoram, porém, o motivo. Ambulâncias não estão mais resolvendo o transporte de pacientes para Cuiabá, são utilizados agora ônibus, também privados.
Precisamos de ferrovias e estradas excelentes, “para melhorar a saúde da população do interior do Estado”. A que ponto chegamos! Os velhinhos e velhinhas com catarata, com quinze minutos de cirurgia, recuperam a visão e a dignidade. À noite estarão em suas casas levando de Cuiabá o que lhes faltava: solidariedade
No dia seguinte o ônibus voltará trazendo outros pacientes. Talvez para diálise renal. E assim vai passando o tempo, permanecendo a falta de humanidade para com esta gente.
Não há vontade política para minorar este sofrimento. Corações de mármore! Não deixem Cuiabá continuar a ser estacionamento de ambulâncias e ônibus de pacientes pobres! Façamos alguma coisa por essa gente que tanto nos ajudou a ser o estado campeão da produção de alimentos!
Eles não merecem o título de viverem no Estado campeão da falta de esperança.
Gabriel Novis Neves
17.06.09
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