Perguntas Cretinas
O telefone toca. Atendo.
“- É o seo Gabriel?”.
“- Sim.” Respondo.
“- Posso falar com ele?”
“- Por enquanto sim.”
“- É da seguradora do banco e gostaríamos de vender um seguro de vida para o senhor.”
“- Acho que você errou no endereço ou quer me passar um trote.” Retruquei.
“- Por que seo Gabriel?” Indaga a vendedora surpresa.
“- Com a idade que tenho vou querer fazer seguro da minha vida?”
A resposta foi monossilábica: “É.”
“- Você tem seguro de saúde com prêmio anual?” Indago.
“- Não, não trabalhamos com este produto. O senhor já recebeu alguma proposta neste sentido?”
“- Sim.” Respondo.
“- Como funciona?” Quis saber.
Explico: “- Pago uma taxa mensal e após um ano, se não morrer, recebo o valor em dobro.”
“- É uma pena seo Gabriel. Nós nunca pensamos em premiar a vida e sim a morte.”
“- E o que vou fazer com prêmios depois da morte?”
“- O senhor é casado?”
“- Não. Viúvo.”
“- Tem filhos? Ela pergunta.
“- Sim.” Respondo
“- Então o senhor deixa o prêmio para eles.”
Pacientemente respondo:
“- Minha filha, eles são todos independentes e não gostariam de receber um prêmio em troca da minha vida. Além do mais tenho netas e neto sendo que duas ainda não fizeram quinze anos e quero estar vivo para dançar a valsa. O meu netinho quer ser jogador de futebol famoso. Não posso morrer. Quero vê-lo na seleção e jogando num timão da Europa.”
“- Mas seo Gabriel – insiste ela – pense na possibilidade também de uma morte não programada. Este prêmio será bem vindo à sua família.”
Perguntei se a conversinha iria continuar.
“- Quer dizer que o senhor não gosta mesmo de seus filhos?” Ela insistiu, outra vez.
“- Adoro todos eles. O que não quero é comprar de você a minha morte.”
“- Obrigada senhor Gabriel, bom dia.”
E finalmente o telefone é desligado.
Fiquei sabendo que em alguns estados está proibido este tipo de chateação. Eu não agüento mais atender telefone para dizer não a empresa que todo dia quer trocar o filtro do meu aparelho de água. Como diversão e pesquisa do comportamento humano esta não é uma situação desprezível.
O ridículo é interessante.
Gabriel Novis Neves
22-05-09
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