sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Perguntas Cretinas

Perguntas Cretinas 

O telefone toca. Atendo. 

 “- É o seo Gabriel?”. 

 “- Sim.” Respondo. 

“- Posso falar com ele?”

“- Por enquanto sim.” 

“- É da seguradora do banco e gostaríamos de vender um seguro de vida para o senhor.” 

“- Acho que você errou no endereço ou quer me passar um trote.” Retruquei. 

“- Por que seo Gabriel?” Indaga a vendedora surpresa. 

“- Com a idade que tenho vou querer fazer seguro da minha vida?” 

A resposta foi monossilábica: “É.” 

“- Você tem seguro de saúde com prêmio anual?” Indago. 

“- Não, não trabalhamos com este produto. O senhor já recebeu alguma proposta neste sentido?” 

“- Sim.” Respondo. 

“- Como funciona?” Quis saber. 

Explico: “- Pago uma taxa mensal e após um ano, se não morrer, recebo o valor em dobro.” 

“- É uma pena seo Gabriel. Nós nunca pensamos em premiar a vida e sim a morte.” 

“- E o que vou fazer com prêmios depois da morte?” 

“- O senhor é casado?” 

“- Não. Viúvo.” 

“- Tem filhos? Ela pergunta. 

“- Sim.” Respondo 

“- Então o senhor deixa o prêmio para eles.” 

Pacientemente respondo: “- Minha filha, eles são todos independentes e não gostariam de receber um prêmio em troca da minha vida. Além do mais tenho netas e neto sendo que duas ainda não fizeram quinze anos e quero estar vivo para dançar a valsa. O meu netinho quer ser jogador de futebol famoso. Não posso morrer. Quero vê-lo na seleção e jogando num timão da Europa.” 

“- Mas seo Gabriel – insiste ela – pense na possibilidade também de uma morte não programada. Este prêmio será bem vindo à sua família.” 

Perguntei se a conversinha iria continuar. 

“- Quer dizer que o senhor não gosta mesmo de seus filhos?” Ela insistiu, outra vez. 

“- Adoro todos eles. O que não quero é comprar de você a minha morte.” 

“- Obrigada senhor Gabriel, bom dia.” 

E finalmente o telefone é desligado. 

Fiquei sabendo que em alguns estados está proibido este tipo de chateação. Eu não agüento mais atender telefone para dizer não a empresa que todo dia quer trocar o filtro do meu aparelho de água. Como diversão e pesquisa do comportamento humano esta não é uma situação desprezível. 

O ridículo é interessante. 

Gabriel Novis Neves 
22-05-09

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