sexta-feira, 2 de outubro de 2009

ESTAGIÁRIO DO PRONTO SOCORRO



Também fui estagiário do Pronto Socorro. Calma pessoal! Este fato aconteceu em 1958 no Pronto Socorro do Hospital Souza Aguiar, no Rio de Janeiro, onde estudava medicina.

Antes do quinto ano de medicina o aluno poderia ser voluntário no hospital. Após terminar o quarto ano, enfrentava um difícil exame de seleção, onde muitos eram excluídos. Os aprovados eram nomeados, e tinham o seu nome publicado no Diário Oficial do Estado, enquadrados como acadêmicos de Medicina.

Além de ajudar no serviço de atendimento – urgência e emergência, aprendi muito e o melhor, tinha uma excelente remuneração. O único equipamento que levava para o pronto socorro era o uniforme. O hospital fornecia refeições e materiais para o trabalho.

O estudante de medicina era valorizado pelo poder público. Os tempos mudaram. O estágio, tão importante na formação do médico, é agora praticamente punido pelo poder público, o mesmo poder que irá depois aproveitar esse médico sem estágio, e contratar empresas especializadas para o seu treinamento.

Geralmente essas empresas pertencem à gente famosa, super qualificada e com muito bom relacionamento no poder. E o preço desses cursos é caríssimo, mas o sistema funciona assim e cada qual entende como quiser.

Implantei dois cursos de medicina em Cuiabá. O primeiro, na onda da novidade, tinha portões hospitalares não tão fortes para serem abertos aos alunos. Agora que esta escola é orgulho de Cuiabá, pois foi escolhida como a melhor em graduação do Brasil, a situação de dificuldade é bem alta.

A outra escola de medicina que implantei, é privada. Foi uma dureza conseguir estágio em hospitais de Cuiabá. Primeiro pela escassez física da rede pública que atende aos pobres. Segundo, não sei por quê.

Chegamos a ter alunos do último ano de medicina impossibilitados de continuar os seus estágios em Cuiabá, e fomos procurar socorro em Várzea Grande.

A luta continua, e desta vez parece que houve uma radicalização. Sou o responsável em contratar o médico da unidade de saúde para monitorar os alunos estagiários.

O aluno tem que aprender também como é o atendimento na rede pública do Estado. Não vejo nenhum ato ilícito nesta proposta que não é secreta. Como o salário do médico é tão indecente, às vezes esta atividade acadêmica o motiva a não abandonar o emprego.

É importante para a sociedade produzir bons médicos. Estagiário é investimento social. Sem educação em serviço não chegaremos a lugar algum. Todos os setores da sociedade estão disponíveis a este projeto.

Será que o nosso Professor-Prefeito não quer perceber este fato?

O que adianta oferecer cursinho pré-vestibular sem ônus, pagar bolsas a universitários e negar-lhe estágio?

Coisas de Cuiabá!

Gabriel Novis Neves
26 de Agosto de 2009

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