segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Que mundo!

Como são ingratas certas profissões! A do médico, por exemplo.
Dias atrás li um artigo em uma revista médica o relato de um dos maiores neurocirurgião acerca de uma complexa cirurgia que teve a duração de mais de doze horas.
Após a realização cirúrgica dirigiu-se aos familiares do paciente que aguardavam apreensivos pelo resultado.
Durante alguns minutos explicou a gravidade da intervenção e disse que, apesar das dificuldades técnicas do ato cirúrgico, o prognóstico era bom, tudo dependendo da evolução do pós-operatório imediato.
Após responder as inúmeras perguntas dos familiares e amigos do paciente, pediu permissão para se retirar, pois precisava descansar e o paciente estava sob os cuidados especializados na UTI.
A família alegre agradeceu “aos céus” pelo sucesso da cirurgia de alto risco.
O médico está treinado e preparado com este tipo de reação. Ele sabe que a ele só cabe a paternidade dos procedimentos malsucedidos.
Médico não cura, às vezes ajuda a aliviar o sofrimento. Não costuma esperar pelo reconhecimento dos seus pacientes pelos sucessos alcançados.
Não se sente injustiçado por esse hábito da nossa cultura. Essa é a vida de quem se dedica a essa profissão.
Outro exemplo de profissão ingrata é a do profissional da construção civil, especificamente, a de pedreiro. Esta, além de ingrata, é, muitas vezes, injusta com o profissional.
São eles – os pedreiros - os escultores de edifícios e apartamentos de beleza extraordinária. Entretanto, após a conclusão de seu trabalho não podem nem contemplar a beleza de sua obra. 
Soube outro dia que um homem humilde estava em frente a um edifício e que lá ficou por um determinado tempo olhando para o prédio. O porteiro, incomodado com a presença do estranho, avisou o síndico, que foi conversar com ele.
Ao retornar, o síndico esclareceu ao porteiro que aquele homem era um simples pedreiro, e que ele fez parte da equipe responsável pela construção do prédio.
O pedreiro estava, tão somente, admirando a sua obra de arte. Por sua simplicidade foi interpelado pelo síndico e, teve sorte, poderia ter sido pela polícia.
Assim são certas profissões – poderia citar umas tantas dezenas delas onde o reconhecimento do profissional não é frequente. Muitos ficam no anonimato e outros têm sua destreza e sucesso computados a outros.

Gabriel Novis Neves
05/02/2014


* Publicado simultaneamente no www.bar-do-bugre.blogspot.com

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