sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A AUDIÊNCIA DA ASSEMBLÉIA


De um modo geral estas audiências públicas terminam, quase sempre, em blá-blá-blá... São longas e, no final das mesmas já esquecemos até o assunto da discussão.

Essa que participei na quinta feira, comandada pelo Deputado Percival Muniz - que não é de Cuiabá - com o Sindicato dos Médicos foi diferente. Existia um planejamento para que todos os presentes dessem a sua contribuição. Não falou quem não quis.

Começamos a reunião com o depoimento de um jovem colega de trinta e três anos. Emocionante! Com slides projetando imagens mais fortes do que as suas palavras, ele chegou a arrancar lágrimas de indignação da platéia, na maioria de médicos, tão acostumados com os confrontos com a morte!

Não sinto nenhum constrangimento de dizer que chorei. O colega que o sucedeu praticamente fechou o caixão do defunto que é a Saúde em Cuiabá. Relatou apenas a realidade. A triste realidade do dia a dia dos médicos do Pronto Socorro de Cuiabá.

Mais deprimente que os slides projetados, apenas as galerias vazias, pelo temor das represálias. Muitos colegas revoltados ficaram em seus trabalhos. Qualquer exposição seria fatal para o seu raquítico holerite.

O primeiro colega a falar na reunião, só pelo fato de encaminhar comunicação interna (C.I) solicitando providências para o bom atendimento de seu serviço, foi punido sem explicação pelo Alto Comando Autoritário da Saúde e perdeu o seu mensalinho. Hoje, o seu salário é de oitocentos reais por mês para quatro plantões de 24 horas semanais no único Pronto Socorro de Cuiabá e do Estado.

Os Prontos Socorros do interior são estações de triagem de pacientes. Eles vêem para Cuiabá naquelas ambulâncias que são distribuídas com festas e foguetórios na Avenida do CPA.

Todos os médicos presentes na audiência estão na lista negra para a perda do mensalinho. Produziram depoimentos de campo de concentração nazista. Uma das melhores médicas do Programa Saúde da Família (PSF) teve um problema de saúde. Com esse salário de Tegucigalpa, ela não possui um plano de saúde. Foi operada recentemente, com sucesso, pelos seus colegas do Pronto Socorro. Está curada. Durante a sua enfermidade, perdeu o seu mensalinho.

O pior é a utilização da mídia com informes publicitários caríssimos, mentindo e denegrindo a já fragilizada classe dos médicos. E quem paga isso somos nós, através dos impostos aviltantes. O Governo deixa de arrumar o RX do Pronto Socorro, de abastecer os Programas de Saúde da Família com medicamentos básicos, de melhorar as condições de trabalho dos médicos para iludir a população que não acredita nos tais informes, pois sentem o desleixo na própria carne.

É uma forma de atingir os formadores de opinião. A audiência não foi para resolver o que foi destruído pela incompetência acumulada dos nossos sábios e éticos gestores. A morte do Pronto Socorro foi anunciada para o dia primeiro de outubro.

A audiência parecia mais um preparo para o Funeral da Saúde. Os deputados estaduais cuiabanos, os vereadores de Cuiabá, com exceção do vereador médico, os secretários da saúde do Estado e do Município de Cuiabá não compareceram à discussão.

Foi necessário um deputado de Rondonópolis marcar esta audiência para, através de uma Comissão, chegar ao Senhor Governador e Prefeito e resolver esta desumanidade que é a crise da Saúde em Cuiabá e em Mato Grosso.

Rezemos para que de certo.

Gabriel Novis Neves
28.09.09

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